5 teses do paradigma do futuro
Em 1985 Boaventura de Sousa Santos profere uma Oração de Sapiência na abertura das aulas na Universidade de Coimbra a propósito do ano lectivo.
E que oração! em 1987 surge o texto "Um discurso sobre as ciências", Edições Afrontamento. Um daqueles textos de tirar a respiração. Que clarividência.
Com suprema elegância descreve-nos os paradigma dominante, o que conseguimos atingir com ele e, suprema ironia, o geramos com ele: o conhecimento que o colocou em 'cheque'!
Falamos de "condições teóricas" que fundamentam "a crise deste paradigma" dominante:
1. Einstein e a relatividade da simultaneidade
2. Heisenberg e Bohr, com a mecânica quântica, mostram que para observar ou medir interferimos
3. Godel e os teoremas da incompletude e sobre a impossibilidade
4. Prigogine e a teoria das estruturas dissipativas e o princípio da ordem através de flutuações
Descreve-nos um "movimento convergente" que vai a caminho de um novo paradigma, um paradigma descrito com 4 "teses":
I. Todo o conhecimento científico-natural é científico-social
II. Todo o conhecimento é local e total
III. Todo o conhecimento é autoconhecimento
IV. Todo o conhecimento científico visa constituir-se em senso comum
"Sabemo-nos a caminho mas não exactamente onde estamos na jornada. A condição epistemológica da ciência repercurte-se na condição existencial dos cientistas. Afinal, se todo o conhecimento é autoconheicmento, também todo o desconhecimento é autodesconhecimento."
Este 'gesto' de humildade, a humildade da sapiciência, a humildade de quem sente o movimento - Beck e Cowan na "Dinâmica da Espiral" chamam os "feiticeiros da espiral" - abre-nos a porta para a nossa especulação.
Nas condições teóricas, gostava de acrescentar duas, que tem desafiado, pelos mesmo flancos epistemológicos, o já fragil paradigma, mas que convém lembrar, ainda vigente (como Kuhn nos preveniu!):
5. A ciência das redes e o seu mais famoso laboratório: a internet: como se organiza o que conhecemos ?
6. As teorias que desvendam o nosso cerebro, a sua arquitectura e o seu comportamento, em particular a consciência: como conhecemos ?
Aqui é de todo oportuno relembrar António Damásio e os seus trabalhos, em particular "O livro da consciência".
Com estas novas condições, o novo paradigma ganha mais peso e acrescenta-se:
V. Todo o conhecimento é micro e macro (EU e NÓS)
Nota: que bom um texto onde os protogonistas são portugueses!
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"Um discurso sobre as ciências",
Boaventura de Sousa Santos,
Edições Afrontamento, 16ª ed, 2010
"O livro da consciência",
António Damásio,
Edição Circulo de Leitores, 2010
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