Celebrando 7 anos de aprendizagens no caminho da sociedade 4.0
Dei-me conta recentemente que tenho um longo rasto de gameworlds onde fui co-criador nos últimos 6 a 7 anos. Que há muita aprendizagem que não foi destilada. Sinto alegria porque arrisquei, fui, experimentei. Sinto tristeza porque são gameworlds que me dizem muito, que tem princípios e valores semelhantes aos meus e que lutam com as estruturas da cultura moderna, ou melhor dizendo, com os seus limites - e.g. uma cultura que valoriza mais uma floresta que se abate do que uma floresta que se preserva; uma cultura em que comer comida que cria solo, não usa químicos, cuida dos Seres é mais cara que comer comida com químicos, que destroí solos e fomenta o desenvolvimento da doenças; uma cultura...
Escolho celebrar a 'criação' e os cerca de 15 gameworlds onde participei nestes cerca de 7 anos, e a loucura de acreditar, com um poema do Almada Negreiros, "Reconhecimento à Loucura"
"Já alguém sentiu a loucura
vestir de repente o nosso corpo?
Já.
E tomar a forma dos objectos?
Sim.
E acender relâmpagos no pensamento?
Também.
E às vezes parecer ser o fim?
Exatamente.
Como o cavalo do soneto de Ângelo de Lima?
Tal e qual.
E depois mostrar-nos o que há-de vir
muito melhor do que está?
E dar-nos a cheirar uma cor
que nos faz seguir viagem
sem paragem
nem resignação?
E sentirmo-nos empurrados pelos rins
na aula de descer abismos
e fazer dos abismos descidas de recreio
e covas de encher novidade?
E de uns fazer gigantes
e de outros alienados?
E fazer frente ao impossível
atrevidamente
e ganhar-Ihe, e ganhar-Ihe
a ponto do impossível ficar possível?
E quando tudo parece perfeito
poder-se ir ainda mais além?
E isto de desencantar vidas
aos que julgam que a vida é só uma?
E isto de haver sempre ainda mais uma maneira pra tudo?
Tu Só, loucura, és capaz de transformar
o mundo tantas vezes quantas sejam as necessárias para olhos individuais.
Só tu és capaz de fazer que tenham razão
tantas razões que hão-de viver juntas.
Tudo, excepto tu, é rotina peganhenta.
Só tu tens asas para dar
a quem tas vier buscar."
Celebro com a palestra do José Luis Peixoto "O possível é o futuro do impossível" (~5m).
E celebro honrando cada gameworld, com o que funcionou e não funcionou para mim, com as minhas aprendizagens. Os gameworlds em que faço/ fiz parte de equipa estão assinalados com *. Os que existem para além da minha participação, tem o link para o website.
Começo pelos que estão activos:
Innovations for the Future * (https://innovationsforthefuture.org/)
Gameworld co-criado pelo Marco de Abreu, Claudian Dobos, Paulo Carvalho com o propósito de 'weave' estes gameworld builders que em Portugal (e no Mundo) estão a experimentar nos limites da cultura actual (sociedade 2.0) e a experimentar na direcção da sociedade 4.0, uma sociedade co-criada por equipas, baseada em consciência e regenerativa. Funciona o ligar, o dar visibilidade das pessoas e dos gameworlds, a aprendizagem e o pensar em conjunto. Não funciona a organização sem centro.
Ferramentas: Council, Teoria U
Terra Livre (https://www.terra-livre.org/)
Gameworld co-criado pela Filipa Dobos e Claudian Dobos com o propósito de experimentar modelos que façam evoluir o constructo de 'propriedade', como aconteceu quando deixou de ser possível um Ser Humano ser 'dono' de outro 'Ser Humano'. Sou membro deste gameworld. Da Terra Livre surgiu o desenho da Fundação Terra Agora, desenho que esta a ser adoptado por outros projectos no Brasil, Roménia e outros locais.
Ferramentas: Council
Funciona o modelo e o propósito; não funciona estar muito local/ fechado/ pouco conhecido.
Fundação Terra Agora * (https://terra-agora.org/)
Gameworld co-criado pelo Ivan Sellers, Filipa Dobos, Claudian Dobos, Marco de Abreu e Tobias Rihs, com o propósito de adquirir terra e acabar com o ciclo de compra e venda (propriedade perpétua) e promover a sua regeneração para as próximas gerações.
Ferramentas: Council
Funciona a visão e o propósito, o modelo. Não funciona não estar reconhecida e não estar provado.
Segue-se um potencial.
Ecobairro da Bela Flor *
Um potencial gameworld, emergente, é o que posso chamar de 'ecobairro Bela Flor' a partir do trabalho que o Gonçalo tem feito no Upaya e a Maria na Boa e Vila, da Cristina na Junta, do Roque Amaro no Grupo Comunitário; transformação de um espaço urbano, as portas do Monsanto para um livelihood de ligação à natureza, vida de bairro, de proximidade, comunidade, promoção do desenvolvimento regenerativo local, com educação, desporto, cultura, produção de alimentos, economia e governação local - uma vila na cidade. Posso vir a fazer parte deste gameworld. A avançar, será para mim a sexta tentativa de co-criar o lugar onde quero morar.
Foco outros com quem colaborei (e não fiz parte da equipa):
rebundance (https://rebundance.com/)
Gameworld co-criado pela Livia Tirone e Ben Tirone que actua na área da liderança criativa e sustentabilidade, co-criando programas de liderança, transformação e empoderamento de pessoas, organizações e comunidades. Colaborei no contexto dos programas de liderança, com praticas dialogicas.
ci.clo (https://ciclo.art/)
Gameworld co-criado pelo Virgilio Ferreira e Ana Guimarães na área da fotografia artistica com a Bienal de Fotografia do Porto como um dos seus eventos principais. Colaborei no contexto da equipa, levando distinções de desenvolvimento humano, regenerativo e de equipa - passos no sentido da auto-organização e empoderamento individual.
Diálogo *
Gameworld de promoção da liderança dialogica, relacional co-criado pelo Marco de Abreu e Ana Rodrigues com o propósito de socializar o circulo/ council/ diálogo como forma de conversação em grupos, de trazer consciência para o espaço da equipa e da sua acção, para fomentar o pensar em conjunto e a inteligência colectiva.
Ferramentas: Council
The Life Wizardy Nest *
Gameworld co-criado pelo Marco de Abreu, José Soutelinho e Ana Umbelino com o propósito de colocar o desenvolvimento humano no centro da acção humana, através da perspectiva integral. Olhar para cada gameworld, como uma escola, um hospital, um partido politico, uma igreja, uma empresa, uma ONG e identificar quais são os elementos que são cuidados e quais os que não são, usando a teoria integral, e propor acções para melhorar uns e introduzir outros (e.g. polaridades, sombra, vários corpos, desenvolvimento ético).
Ferramentas: Council, Teoria Integral, Spiral Dynamics
Proposito de transformação e empoderamento. Visão integral do Ser Humano e perspectiva evolucionária. Dificil traduzir a mensagem e oferta. Dinâmica de equipa não criou confiança, criou sombra.
The Urban Forest *
Paulo Carvalho, Claudian Dobos, Marco de Abreu, Roberta Treno, Teresa Almeida
Gameworld iniciado pelo Paulo de Carvalho, de intervenção no espaço urbano que questionava a forma como vivemos na cidade e se proponha a experimentar outras formas de bem viver/ bem ser na cidade, com conexão humana, em conexão com a natureza, em harmonia com cada local, respeitando e criando legado.
Ferramentas: Council, Teoria U
Estimulante processo criativo, de aprendizagem. Visão inspiradora. A escala e a necessidade de investimento, bem como o horizonte temporal não compatível com a equipa foram pontos que não funcionaram.
The Stretch *
Claudian Dobos, Marco de Abreu, Andrei Iuroaia, Claudia Gross
Boutique europeia (gameworld) com o propósito de promover as organizações teal (organizações da sociedade 4.0) e a transformação das organizações existentes nessa direcção.
Ferramentas: Council, Sociocracia 3.0, Possibility Management, Organizações Teal, Process Work, Teoria U
Equipa, propósito e àmbito geografico. Não funcionou o compromisso e dedicação de cada uma das pessoas na equipa.
Eternal Forest * (https://eternalforest.earth/)
Evgenia Emets, Marco de Abreu, Ana Aires
Gameworld iniciado pela Egvenia Emets que visa criar santuários floresta em várias partes do Mundo que são reservas de biodeversidade, que criam legado, e são cuidados pelas comunidades locais. Estes santuários acolhem cientistas e artistas que experimentam sobre a evolução cultural.
Ferramentas: Council
Visão inspiradora. Legado e impacto. Não funcionou a criação de equipa e a natureza de longo prazo/ investimento do projecto.
Ecobairro Campolide *
Gonçalo Pereira, Maria Nolasco, Marco de Abreu, Gil Penha-Lopes
A ideia inicial parte do casal Gonçalo e Ana co-criadores do Upaya. Intervir na zona urbana e criar um estilo de vida de proximidade e em harmonia com Gaia, cultivando consciência e ligação entre as pessoas. Foi para mim a 2ª tentativa de co-criar o local onde quero viver.
Ferramentas: Council
Visão e possibilidades reais com base em activos existentes. Maior parte da equipa não vivia no bairro e a escala de financiamento, bem como diferentes agendas das pessoas da equipa.
ten chi * (https://quintatenchi.org/)
Paul Bush, Rita Venturini, Anne-Sophie, Marco de Abreu, Francesca Bertozzi, Caterina Foa
Gameworld iniciado pelo casal Rita e Paul com o propósito de criar um centro dedicado ao emboidment (emboidment leadership) com oferta nesta área e comunidade residente, extendendo o centro para ter componente residencial. Foi a 3ª tentativa criar o local onde viver. É um legacy space (cowork para a sociedade 4.0) com centro de cura, agrofloresta, centro de eventos e componente residencial, oficinas.
Ferramentas: Teoria U, SPT, Council, Dragon Dreaming, Sociocracia 3.0
Infra-estruturas, equipa e vontade de usar formas diferentes de fazer. Não funcionou o tema da propriedade, falta de investimento para recuperação das infra-estruturas e extensão para a parte residencial.
Universidade dos Valores * (http://www.universidadevalores.org)
Lourenço Xavier, Eva Ndrio, Marco de Abreu, Rubinei Nunes, Kedja Gomes
Gameworld co-criado pelo casal Eva e Lourenço com o propósito de cultivar os valores universais. Desenvolveu componentes para escolas, desporto e tem um museu dos valores universais. A equipa formou-se para extender o gameworld para um legacy space (cowork para a sociedade 4.0) com centro de eventos, coworking, co-living, empreendedorismo em trono dos valores universais, projecto de agroecologia, alimentação e valores naturais. Foi a 4ª tentativa de criar o local onde quero viver.
Ferramentas: Council
Infra-estruturas disponíveis (materiais e imateriais), cultura de mediação/ paz/ diálogo, ancoragem na comunidade de Mafra. Não funcionou as diferentes expectativas de algumas pessoas da equipa, falta de visão comum, falta de investimento, transição de uma equipa a 2 para 5, e não ser possível a utilização de possibility management.
Pinha do Agora *
Patricia Bastos, Gil Penha-Lopes, Marco de Abreu, Joana Cruz, Matteo Tangi
Gameworld com o propósito de co-criar uma escoaldeia, a cerca de 1 hora de Lisboa e para cerca de 20 famílias, usando os princípios e ferramentas do Possibility Management e do Desenvolvimento Regenerativo e os princípios da GEN. A ideia inicial parte, do então casal, Patricia e Gil. Foi a minha 5ª tentativa de co-criar o lugar onde quero viver.
Ferramentas: Possibility Management, Desenvolvimento Regenerativo
Sermos todos de PM e termos 2 de nós no DR, bem como as boas relações de amizade. Haver agendas diferentes, não clareza no uso do PM e RD por todos e os parceiros não estarem presentes no circulo.
Possibility Management em Portugal * (https://pmpt.mystrikingly.com/)
Joana Cruz, Marco de Abreu
Gameworld que explora os limites da cultura moderna e do que é Ser Humano adulto iniciado. Explora o que pode ser a evolução cultural, para uma cultura circular, (não hierarquíca), regenerativa, em equipa, baseada em consciência e na colaboração criativa entre adultos iniciados. Começou há mais de 20 anos na Alemanha e chegou a Portugal a mais de 7 anos. O propósito foi dinamizar este prática em Portugal através da organização de treinos, coaching e consultoria a comunidades e organizações.
Ferramentas: Possibility Management
O crescimento desta prática no Mundo, a crescente quantidade de treiners e praticaentes, bem como a investigação que se realiza em diferentes áreas do que significa Ser Humano. A novidade, o facto de estar tão fora da cultura moderna e de exigir um compromisso forte com a transformação.
PM+RD (https://pmrd.mystrikingly.com/)
Gil Penha-Lopes, Marco de Abreu, Maciek, Ivan Sellers
Gameworld com o proposito de investigar, transformative action research, como o Possibility Management e o Regenerative Development podem facilitar a transformação cultural na direcção da sociedade 4.0 (Gaian Gameworlds).
(com o Gil) - consultancy
Ferramentas: Possibility Management, Desenvolvimento Regenerativo
Modelos de vanguarda (sociedade 4.0) com resistência nas organização da sociedade 2.0. Dificuldade em financiar a actividade com recurso próprios de consultoria ou capacitação. Poucas pessoas com as duas práticas e dificuldade em mobilizar/ criar comunidade.
Vila Escola (https://vilaescola.com/)
Maria Nolasco, Joana Carvalho, Elena Garcia, Marco de Abreu
A Vila Escola Sustentável é um gameworld de educação alternativa iniciado pela Sara Nolasco e Maria Nolasco, dos 2 anos ao 12º ano (até 4º ciclo), sem sala de aula (pedagogia aberta), urbana, na natureza, contemplativa, emocional, social e ética. Em funcionamento desde 2019, em Campolide, Lisboa, tem hoje cerca de 50 crianças entre os 2 anos e os 10 anos (até 1º ciclo).
Ferramentas: -
inovação na educação que a Vila apresenta é necessária, é a evolução (sociedade 3.0 e a caminho de sociedade 4.0); modelo de organização não - cultura moderna, hierarquico, comercial (sociedade 2.0). Investimento é ponto crítico.
Vasta a locura. Enorme a aprendizagem. Abaixo um resumo.
Valores - o que cada um de nós valoriza ?
Propósito - o que queremos fazer e como ?
Agendas pessoais - o que eu quero para mim é consistente com o que os outros querem para si e com a agenda do gameworld (curto prazo, médio prazo, longo prazo) ?
Dedicação e compromisso - qual a natureza do meu compromisso e dedicação ?
Propriedade e poder - quem é o 'dono' e qual o desenho das estruturas de poder, implicito e explicito ?
Organização - Como nos organizamos para decidir e agir ? para resolver conflitos ? hierarquia ? circular ?
Consciência - qual a relação com a consciência e com a sua evolução ?
Sombra - estou iniciado nos três mundos ? qual a minha relação com a sombra ?
Equipa - como se forma a equipa ? quem faz parte ? qual o seu compromisso ? porque é que eu quero pertenecer a este equipa ? como ela fica melhor por eu fazer parte ?
Responsabilidade - qual a relação com a responsabilidade de cada pessoa ? do gameworld ?
Gaia - qual a relação com Gaia ? minha ? da equipa ? de parceiros ?
Financiamento - de onde vem o dinheiro ? quais os seus termos e condições ? estão alinhados com a cultura dos projectos ?
Contas - como pago as minhas contas ? que necessidades ? qual o acordo com a equipa ?
Limites - quais são os meus limites ? o que não funciona ? o que quero experimentar ) (e.g. não funciona expeculação imobiliária; juros; propriedade individual; hierarquia)
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